domingo, 4 de setembro de 2011

Uma nova visão de CLEÓPATRA



A História nunca está feita, pelo menos não há uma única História ou uma História definitiva. Por exemplo, Cleópatra surge-nos agora como «uma rainha sagaz e astuta, uma estadista incomparável»





Um livro que desfaz os mitos da grega que foi a última rainha do Egito.
Uma pesquisa aturada e rigorosa que acaba de vencer o prestigiado PEN para biografia







RESTAURAR CLEÓPATRA
Expresso/Atual, 2011.Set.03 Luísa Meireles (Texto)
Em primeiro lugar, esqueça os mitos – a estonteante beleza, o insaciável apetite sexual, a serpente que a matou e até que era egípcia. Cleópatra não era nada disso. Foi o (a) últi­mo faraó do Egito, é certo, mas era tão egípcia como Elizabeth Taylor, que há 50 anos a imortalizou no cinema com os seus olhos violeta. Cleópatra VII, a "Mãe de Reis, Rainha de Reis, a Mais Jovem Deu­sa", como foi conhecida no seu apogeu, era, afinal, grega, última descendente da dinastia de 300 anos dos Ptolomeus, o primeiro dos quais havia sido um general macedónio, íntimo de Alexandre Magno, que reivindicou o Egito.
Cleópatra era uma rainha sagaz e astuta, uma estadista incomparávelNão era bela e homens teve apenas dois – não por acaso os dois maiores comandantes romanos da sua época, Júlio César e Marco António. Deu um filho a um e três a outro. Tal como no filme, amava a pompa e manipulava ritos e tradições. Porque foi, sobretudo, uma política refinadíssima, uma rainha sagaz e astuta, um estratego de primeira água e uma estadista incomparável que reconheceu por fim a derrota política, suicidando-se. Mas não com uma serpente.
"Cleópatra" (Civilização Editores), que significa "glória da sua pátria" em grego, é o último livro da americana Stacy Schiff, que já ganhou um Pulitzer com a biografia de Vera Nabokov e foi nomeada para outro com a de Benjamim Franklin. Desta vez pre­senteia-nos com uma pesquisa histórica aturada, ri­gorosa e nunca aborrecida ou fastidiosa. Não corre o risco de pôr palavras na boca da mulher mais famosa da Antiguidade, que morreu 30 anos antes de nascer Jesus Cristo. Até porque, como diz Stacy, dela mes­ma só se conhece uma palavra: Ginesthoi. Quer dizer "Faça-se" e ela, ou o seu escriba por ela, escreveu-a num papiro. Não por acaso, era uma ordem.
Restaurar Cleópatra é decapar um mito incrustado, diz Stacy. Percebê-la é entender como a História antiga foi escrita, por quem, para quem e porquê. Na Antiguidade não havia histórias simples ou desprovi­das de verniz, porque a ideia era deslumbrar: O tem­po era de personalidades desmedidas e a História, já se sabe, é escrita pelos vencedores. A autora também não quis fazer uma revisão 'feminista' da História. Acontece que a de Cleópatra foi feita por homens, a maioria deles romanos, que viveram muitos anos de­pois da sua morte e que em parte a detestaram.
A rainha egípcia – a mulher mais rica do mundo do seu tempo – era-lhes estranha e ameaçadora. Co­mo lembra o poeta grego Eurípedes, se as mulheres inteligentes são perigosas, uma mulher rica e inteli­gente é frequentemente intolerável, especialmente em Roma onde, sublinha Stacy, as mulheres goza­vam dos mesmos direitos que as crianças e as gali­nhas. Num arroubo que tem mais de verdade do que de feminismo, escreve: "Cleópatra perturbou mais como sábia do que como sedutora. É melhor ser fa­talmente atraente do que fatalmente inteligente."
O primeiro homem que começou a moldar-lhe a história foi aquele que a derrotou, Octávio ou Otavia­no, a quem viu uma única vez na sua última semana de vida. Haveria de chamar-se depois César Augus­to. Foi por causa do seu triunfo sobre ela que este Augusto se "apoderou do mês de agosto, dando-lhe o seu próprio nome – foi a 10 de agosto de 30 a.C. que ela morreu e a 31 de agosto que Octávio anexou for­malmente o Egito, a pérola cobiçada do mundo anti­go e até então reino vassalo do poder de Roma. Octá­vio reiniciou o relógio a 1 de agosto, data em que entrou em Alexandria, a "primeira cidade da civiliza­ção", um paraíso erudito e folião, vibrante de negó­cios, que fazia Roma parecer uma suja e escura cida­de de província. Nesse tempo não havia ainda Coli­seu, nem Panteão, nem termas de Caracala. As úni­cas estruturas dignas de registo eram o Teatro de Pompeu e o Fórum de César.
Dos tempos de Cleópatra quase nada subsiste. A fantástica cidade de Alexandria, com uma colunata a todo o comprimento da cidade e maravilhas mecâ­nicas, elevadores hidráulicos, máquinas de moedas e estátuas de olhos a piscar, jaz seis metros abaixo do chão. A sua mítica biblioteca ardeu para sempre, o farol não mais existe, o museu desapareceu. O pa­lácio de Cleópatra deslizou para o Mar Mediterrâ­neo, o porto já nada tem a ver com o desses tempos. Não se sabe onde está o seu túmulo, apesar das mui­tas teorias. Até o Nilo mudou de curso. A deusa Ísis que Cleópatra reincarnou foi substituída pela mais abrangente Virgem Maria.
Mas voltemos a Cleópatra ou ao retrato que Stacy tem o cuidado de classificar como aproximado, escrupulosa em referir as fontes históricas: Lucano, Dio, Apiano, Josefo, Suetónio e muitos outros, mas sobretudo Plutarco, o mais próximo da rainha egíp­cia. Era grego e escreveu 100 anos após a sua morte – recordando os testemunhos que lhe relatara o avô, amigo de um médico contemporâneo de Cleópatra que chegou a visitar as cozinhas do palácio em dia de magnificente repasto, em que se cozinhavam 10 java­lis para 12 convivas – quiçá servido na sua extraordi­nária baixela, 300 toneladas de ouro!
É Plutarco quem diz, lembrando o avô, que ela não era de "extraordinária beleza". Pelos vistos, e a crer no mito, o tempo melhorou-lhe o aspeto, por­que o eco da sua beleza foi crescendo à medida que passaram os séculos. O que revelam as poucas moe­das que subsistem das que mandou cunhar (as pri­meiras a valer pelo seu valor facial e não do metal incorporado, o que lhe rendeu não pouco lucro) é uma mulher de nariz aquilino. O mesmo traço que subsiste num busto desenterrado 1800 anos depois entre ruínas romanas, a par de uns lábios carnudos, um queixo afiado e proeminente, olhos grandes e encovados. E um penteado que a tomou famosa: de­zenas de pequeninas tranças presas num carrapito e caracóis na testa.
Depois de um começo aventuroso, o reinado de Cleópatra não conheceu revoltas. Era magistrada, suma sacerdotisa, rainha e deusa
A sua pele seria do tom do mel e era sem dúvida pequena. Quando do seu primeiro encontro com Cé­sar, aos 21 anos (já reinava há três e estava proscrita pelo irmão Ptolomeu), foi transportada ao ombro do seu fiel escravo Apolodoro dentro de um saco onde era costume enfiar rolos de papiro – o desenrolar do tapete foi um bom truque de efeito cinematográfico. Contrariando a imaginação masculina (e cinco sécu­los de História de Arte) de lá saiu completamente vestida, presumivelmente com uma longa túnica de linho, justa e sem mangas, e a tradicional fita branca na testa, que só ela, como governante, tinha direito a usar. E terá sido assim que entrou na História.
César deve ter ficado impressionado. Plutarco realça que era o impacto da presença de Cleópatra que a tornava irresistível e sedutora. A sua voz aveludada e a sua oratória, o seu sentido de humor e inteligência cativavam qualquer audiência. Falava nove línguas, incluindo o hebraico e o troglo­dita, uma língua que Heródoto dizia "soar a guin­chos de morcego". E sobretudo dominava o egípcio – terá sido a primeira e única dos Ptolomeus a dar-se ao trabalho de aprender a língua dos sete mi­lhões de pessoas que governava. Depois de um come­ço aventuroso, o seu reinado não conheceu revoltas e Alexandria floresceu. Era magistrada, suma sacer­dotisa, rainha e deusa. A que acrescentava, numa base quotidiana, as tarefas de diretora-executiva. A organização ptolemaica do poder era tão pormenori­zada que costuma comparar-se à soviética – salva­guardadas as devidas proporções, entenda-se.
Se amou César e, depois dele, Marco António, não se sabe. Política, negócios e cama, dir-se-á, con­fundiam-se naqueles tempos. Mas deu um filho a César que este reconheceu (Cesarião) e que Octávio convenientemente mandou assassinar após a morte da mãe – era tudo o que ele não queria, um rival, filho direto do seu pai adotivo e para mais da linha­gem dos deuses de ambos os lados do Mediterrâneo. E outros três a Marco António, com quem mantém uma relação sólida durante mais de 10 anos. Juntos, haveriam de fundar em Alexandria uma Sociedade dos Viventes Inimitáveis para puro divertimento ­– tê-lo-iam feito se não se amassem? Os filhos acaba­riam por ser criados pela ex-mulher de Marco Antó­nio, que era simultaneamente irmã do seu algoz. Grandeza deste? Não terá sido isso que impediu Oc­távio de os fazer desfilar (juntamente com a efígie da mãe) no seu grande cortejo da vitória, em Roma.
E que quis Cleópatra? Com César terá procurado garantir o trono, afastando os irmãos-consorte, e ga­nhar a paz para o seu reino, sistematicamente envolvido nas guerras romanas. Não terá tido tempo para mais. Quando César é assassinado, está ela em Roma com o filho bebé e grávida de outro, que vem a per­der. Com Marco António houve algo mais, talvez o sonho de um grande império, governado em conjun­to com o triúnviro (o título de Marco António, que governava Roma juntamente com Octávio e Lépido).
A verdade é que financiou as guerras de um e de outro, sendo que na última batalha – a que Marco António travou com Octávio – foi parte interessada e, mais do que isso, o pretexto dela. Cruzou-se em má hora na guerra civil entre os dois: Octávio preci­sava da "estrangeira que queria conquistar Roma" para aliciar os homens e combater Marco António. Pois não era um supremo insulto figurar, a par des­te, numa moeda romana? Suprema ironia para a su­prema rainha: António não podia ganhar a guerra sem ela. Octávio não podia travá-la.
Perdeu-a, como se sabe, na batalha naval de Ácio. Marco António não aguentou a derrota e acabou por suicidar-se um ano depois, com Octávio já em Ale­xandria. Antes disso, a Sociedade dos Viventes Inimi­táveis ainda foi substituída por outra, denominada Companheiros até à Morte. Cleópatra tentou uma saída para a Índia, e outra para Espanha, tentando improvisar soluções engenhosas. Terá sido nessa al­tura que a lenda lhe aponta o hábito de experimen­tar venenos eficazes e indolores em prisioneiros.
Cleópatra acabou por ficar no Egito. Octávio que­ria-a viva mas três dias antes da sua partida ela man­dou-lhe um recado, pedindo-lhe para ser enterrada junto de Marco António, que morrera nos seus bra­ços dias antes. Morta, estava serena e ataviada com todos os seus atributos de poder. Não havia víbora alguma – esta só se insinua na História mais tarde, dentro de um cesto de figos. Nem Dio, nem Plutar­co, nem Estrabão ficaram convencidos disso. Como diz Stacy: "Quando uma mulher se alia a uma serpen­te, há algures uma tempestade moral à espreita."
À data da sua morte, Cleópatra tinha 39 anos e governara durante quase 22. O fim de Cleópatra foi o fim de uma era. Da sua dinastia, sem dúvida, de Alexandria, do Egito enquanto tal, transformado do­ravante em província de Roma. Mas enquanto vi­veu, estendeu o seu poder a limites territoriais ini­magináveis para o seu reino, ao ponto de convencer o seu povo de que o crepúsculo era uma alvorada.
Em Roma, entretanto, feneciam os 400 anos da República com a ascensão de Octávio. Vingativo, ha­via de proibir por decreto que se voltassem a juntar os nomes de Marco e António numa mesma pessoa. Mas aproveitou-se bem dos fundos da soberana, que injetou na economia, fazendo subir os preços, tão vastos eram. Roma conheceu então uma verdadeira egiptomania. Depois de ler o deslumbrante livro de Stacy, percebe-se como Cleópatra foi a mulher mais famosa que não conhecemos. Até agora. A

domingo, 18 de abril de 2010

Elogio do LIVRO, o maior que já vi/ouvi

Ter um livro, ler um livro ... sonhos de infância. Depois uma adivinha: «Qual a coisa qual é ela que dá tudo quanto tem e com tudo se fica?» Resposta: o LIVRO.
Agora esta "computorização" do livro! Adorei.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Diário de Anne Frank

Quem ainda não leu O Diário de Anne Frank?

Horror e paixão que se cruzam em esperança e dor...
Uma homenagem àquela a quem devemos esse «milagre da salvação» aqui fica para nos recordarmos que os erros daqueles homens não podem voltar, jamais.
1909-2010
Miep Gies
A guardiã do Diário de Anne Frank

(PÚBLICO) 2010.Jan.13 Susana Almeida Ribeiro

Miep Gies manteve os manuscritos a salvo dos nazis, na esperança de um dia poder devolvê-los à autora, que entretanto morreu num campo de concentração
Tinha 100 anos e foi uma das pessoas que ajudaram Anne Frank e a família a esconderem-se dos nazis. Miep Gies, guardiã dos manuscritos que deram origem ao clássico universal O Diário de Anne Frank, morreu ontem, na Holanda, na sequência de uma queda que tinha dado por altura do Natal.
Nascida em Viena, a 15 de Fevereiro de 1909, Miep Gies mudou-se com a família para a Holanda em 1922. Conheceu a família Frank em 1933, quando.se candidatou a uma vaga para secretária na empresa de especiarias Opekta, dirigida pelo pai de Anne Frank, Otto Frank.
Foi em 1942, em plena II Guerra Mundial, que lhe foi confiado um segredo: "Otto Frank, o meu chefe, pediu-me que passasse pelo seu escritório. Quando entrei, disse-me: 'Senta-te. Tenho uma coisa muito importante para te contar. Um segredo, na verdade. Pensámos em nos esconder, aqui, neste prédio. Estarias disponível para nos ajudar, para nos trazeres comida?' Eu respondi que sim, naturalmente", contou a própria Gies numa entrevista publicada no site da Casa de Anne Frank, transformada em casa-museu.
A última sobrevivente do grupo de pessoas que escondeu os Frank sempre recordou que os verdadeiros heróis em toda a história foram pessoas como o seu próprio marido, Jan, a par com outros funcionários da empresa de Otto, que, em conjunto, ajudaram os oito judeus escondidos no sótão do número 263 de Prinsengracht, em Amesterdão. "Eles estavam indefesos, não sabiam para onde se virar... Cumprimos as nossas obrigações enquanto seres humanos: ajudámos pessoas em dificuldade."
A função de Miep era levar à família vegetais e carne, ao passo que outras pessoas tinham a função de lhes entregar pão e livros.
Depois de os nazis terem descoberto o anexo secreto, após uma denúncia às autoridades, e terem detido a família Frank, Miep Gies voltou ao sótão e encontrou, no chão, os manuscritos de Anne. Na altura recorda-se de ter decidido que não iria lê-los, respeitando o direito da autora à privacidade. Nessa altura limitou-se a recolher e a pôr a salvo os documentos.
Património documental
Mas nunca conseguiria devolvê-los à autora. Anne Frank acabou por morrer de febre tifóide no campo de concentração de Bergen-Belsen, a 12 de Março de 1945, quando tinha apenas 15 anos – e por isso, nesse mesmo ano, Miep entregou os documentos a Otto, o único membro da família de Anne que conseguiu sobreviver aos campos de concentração alemães.
A obra foi finalmente publicada, em formato de diário, em 1947. O livro converteu-se num êxito universal – estima-se que esteja, hoje, entre os dez livros mais lidos do mundo –, com tradução em 60 línguas e mais de 25 milhões de exemplares vendidos, afirmando-­se como um dos testemunhos mais vivos da implacável perseguição nazi aos judeus durante o Holocausto.
O Diário de Anne Frank integra, aliás, a lista de 35 bens do património documental mundial "de interesse universal" propostos em 2009 pela UNESCO ao programa Memória do Mundo.
Desde a publicação da obra, Miep Gies viajou por todo o mundo narrando as suas experiências durante o Holocausto e a trágica perseguição aos judeus, o que lhe valeu um enorme reconhecimento público.
Refutou, durante toda a vida, as alegações de que o diário da jovem autora teria sido forjado.
Em Agosto do ano passado foi anunciado um filme da Disney acerca da vida de Anne Frank. O argumento e a realização ficarão a cargo de David Mamet.

GALILEU - Portugal esperou 400 anos pela tradução do «Mensageiro das Estrelas»

[Sabia que...]

Portugal esperou 400 anos pela tradução de uma obra de Galileu [?]
(PÚBLICO) 2010.Fev.10 Ana Machado


Livro foi escrito em 1610. Para o comissário do Ano Internacional da Astronomia em Portugal, esta obra é "um marco na Astronomia e na ciência"



Chama-se O Mensageiro das Estrelas, Sidereus Nuncius, no original, e é a primeira obra de Galileu a ser traduzida na íntegra em Portugal. O lançamento, marcado para 17 de Março, encerra as comemorações em Portugal do Ano Internacional da Astronomia, que celebrou os 500 anos das primeiras observações do céu com um telescópio, feitas por Galileu.
Escrito há 400 anos, o Mensageiro das Estrelas, ou Mensagem das Estrelas, é considerada uma das obras mais importantes do pensamento ocidental, é um marco na história da Astronomia, diz num comunicado João Fernandes, comissário do Ano Internacional da Astronomia em Portugal.
Com tradução e anotações de Henrique Leitão, investigador do Centro Interuniversitário de História das Ciências e da Tecnologia, coordenador da edição completa das obras de Pedro Nunes, lançadas pela Fundação Calouste Gulbenkian, O Mensageiro das Estrelas é, nas palavras do próprio tradutor, "um livro único na história da ciência e uma das obras mais importantes em toda a história do pensamento ocidental".
"Nunca na história da ciência uma obra provocou tanta comoção e deu origem a debates tão acesos como esta", diz o investigador sobre a obra, publicada em 1610 e escrita para "causar sensação". "Tem uma clara conotação jornalística: relatar, em tom vivo e rápido acontecimentos e observações sensacionais. Galileu escreveu para causar sensação", explica Henrique Leitão.
Para o comissário para o Ano Internacional em Portugal, João Fernandes, O Mensageiro das Estrelas é "um marco na Astronomia e na ciência". No livro, Galileu revela e discute as primeiras observações astronómicas alguma vez feitas com o auxílio de um telescópio.
Com nota de abertura do investigador belga Sven Dupré, um dos maiores especialistas mundiais no telescópio de Galileu, o livro integra ainda um estudo e a tradução de Henrique Leitão, uma cronologia e ainda um fac-símile integral da edição original do Sidereus Nuncius, de 1610.
"É [um livro] dirigido para um público geral, mas instruído. Isto é, dirige-se exactamente ao mesmo tipo de pessoas a que Galileu tentou chegar quando publicou o seu livro em 1610", refere Henrique Leitão, que lembra que, apesar de ser a primeira vez que se traduz uma obra de Galilei em Portugal, O Mensageiro das Estrelas já tinha uma tradução em Português feita no Brasil.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

LIVROS DE SEMPRE E PARA SEMPRE


Desta lista, já li muitos. Quantos me faltam? Também muitos!
E quais os escritores portugueses representados?


Já leu algum destes livros?
(Expresso) 2009.Julho.04


A "Newsweek" fez uma lista com os cem melhores livros de sempre
Começámos por seleccionar 10 listas diferentes dos melhores li­vros que julgamos representar uma mistura ecléctica dos gos­tos dos leitores e não apenas uma lista limitada dos Grandes Livros do Mundo Ocidental. Pa­ra ser considerada, a lista tinha que ser de livros escritos em in­glês ou traduzidos para inglês. As listas que seleccionámos vão desde as muito eruditas (a do St. John's College) às muito mais acessíveis (o Clube de Livros de Oprah e os livros mais vendidos da Wikipédia).
Algumas apresentavam ape­nas romances, enquanto outras incluíam uma mistura de ficção e não ficção. Umas continham apenas obras do século XX e ou­tras iam até aos primórdios da civilização ocidental. O nosso ob­jectivo foi o de tomar em consi­deração um conjunto de facto­res – incluindo o impacto do li­vro na história, a sua contribui­ção intelectual para a nossa cul­tura, a sua relevância actual e popularidade continuada. Não pretendeu ser uma lista abran­gente dos melhores livros de sempre, mas antes um reflexo das paixões e apreciações de lei­tores e críticos inteligentes do nosso tempo.
A lista completa das 10 listas anteriormente publicadas em que nos baseámos inclui 110 me­lhores livros/ A Biblioteca Perfei­ta do "The Telegraph", 100 me­lhores livros do "The Guar­dian", Clube de Leitura da Oprah, a lista de leitura do St. John's College, a lista dos livros mais vendidos de sempre da Wi­kipédia, os livros do século da New York Public Library, a lista dos 100 melhores romances do século XX do Radcliffe Publi­shing Course, os 100 melhores romances e as 100 melhores obras de ensaio da Modero Li­brary. Os 100 melhores roman­ces em língua inglesa desde 1923 até ao presente, da "Ti­me", e a lista da "Newsweek" das suas 50 escolhas actuais.
Depois de todas as listas se­rem seleccionadas e de todos os títulos serem introduzidos nu­ma base de dados, criámos um sistema de ponderação para que cada título individual fosse pontuado igualmente, quer vies­se de uma lista grande ou de uma lista pequena, de uma lista de ficção ou de géneros mistos, ou de uma lista que incluísse apenas livros escritos no século XX ou títulos de um passado mais remoto. A ponderação ajustou estas diferenças indivi­duais entre listas. No resultado final, o livro com maior pontua­ção combinada é o n.º 1 da lista, o segundo é o n.º 2 e por aí adiante até ao fim da lista. No caso de empate – e houve mui­tos – desempatámos atribuin­do o valor mais alto ao livro que obteve maior número de resul­tados no Google, numa busca por autor e título.
Na nossa metaclassificação, anotamos que livros foram reco­mendados em que lista ou listas. Se clicarmos em cada uma das listas, veremos em que lugar ca­da livro aparece na respectiva lis­ta (embora em algumas dessas listas os livros estivessem classi­ficados e ordenados e noutras não, o que foi tomado em conta ao atribuirmos uma classifica­ção a cada livro).
Peter W. Bernstein, AnnaIyn Swan (ASAP Media)
Análise estatística: Courtney Kennedy Investigação: Emmelyn Stevens

ESQUECIDOS
Os dez livros que faltam

As listas dos 'melhores' livros de sempre são como as sondagens: valem o que valem. No top-100 da "Newsweek", à subjectivida­de que qualquer escolha deste ti­po sempre acarreta, juntam-se dois factores que lhe limitam o alcance e a utilidade: a despro­porção de referências literárias anglófonas (81% dos títulos), que remete o resto do mundo a uma injustíssima quase inexistência, e o facto de alguns autores esta­rem representados por dois ou três livros. Para um europeu é in­compreensível que estejam ausentes nomes como os de Ca­mões, Cervantes, Balzac, Eça de Queirós, Oscar Wilde, Pirandel­lo, Pessoa, Camus, Beckett, Italo Calvino, Yasunari Kawabata, Elias Canetti, Julio Cortázar, J. M. Coetzee, Orhan Pamuk, por tro­ca com autores menores como W. E. B. Du Bois, Ken Kesey, Ja­mes Baldwin, E. B. White ou WiI­Ia Cather. Entre as grandes obras que esta lista ignora, con­tam-se estas dez:
ORLANDO FURIOSO, Ludovico Ariosto, 1516
OS LUSÍADAS, Luís Vaz de Camões, 1572
DOM QUIXOTE, Miguel de Cervantes, 1605-1615
TRISTRAM SHANDY, Laurence Sterne, 1759-1767
CRIME E CASTIGO, Dostoiévski, 1866
CONTOS, Tcheckov
A MONTANHA MÁGICA, Thomas Mann, 1924
O HOMEM SEM QUALIDADES, Robert Musil, 1943
FICÇÕES, Jorge Luis Borges, 1944
O QUARTETO DE ALEXANDRIA, Lawrence Durrell, 1960

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

CESÁRIO VERDE


Para quem gosta de Cesário e não só

Um inédito de Cesário
AMANHÃ PASSAM 123 ANOS SOBRE A MORTE DE CESÁRIO VERDE, POETA MAIOR DA NOSSA LÍNGUA. O EXPRESSO RECUPERA UM INÉDITO
TEXTO DE ERNESTO RODRIGUES (Expresso-actual, 2009.Julho.18)
HÁ NOTÍCIA de dois poemas de Cesário Verde (1855-1886) que ninguém encontra: Joel Serrão, no "Diário de Notícias" (23-3-1986), e Pedro da Silveira, no catálogo da exposição comemorativa do primeiro centenário da morte (Biblioteca Nacional, 1986), em 19 de Julho, lembram 'O Voto Negro' e 'Subindo'. Mas nunca se citou 'Escândalos', para o qual me alertou Mauro Nicola Póvoas, da Universidade Federal do Rio Grande (Sul do Brasil).
Não há edição séria de oitocentistas sem rastrear mais de cinco mil jornais e revistas, afora centenas de almanaques. De Antero a João de Deus, é forçosa esta revisão. Quanto a Cesário, diz ainda Silveira "ser quase certo ter colaborado no almanaque 'Hom'essa! Pist-ò-tira!' para 1877" (pág. 15), que se não encontra.
O primeiro poema datado, 'A Forca', traz 2 de Abril de 1873: é um dos três com que se estreia no "DN" de 12-11-1873, apresentado pelo redactor Eduardo Coelho, antigo marçano do pai, com loja de ferragens na Rua dos Fanqueiros. O "Diário Ilustrado" de 13 logo anuncia livro, "Cânticos do Realismo", em que se apoiou Teresa Sobral Cunha ("Cânticos do Realismo e Outros Poemas", 2006): além de remeter para Agosto a estreia em letra de forma, com versos não assinados na revista "Artes e Letras", procede a um alinhamento cronológico de 41 poemas, diverso da "Obra Completa" (2001), organizada por Joel Serrão, que faz seguir os 22 de "O Livro de Cesário Verde" (1887), por Silva Pinto, de 17 aí não incluídos.
Teria sido 1873 um ano tão produtivo para requerer volume? Se Cesário não contesta aquele título, certo é que, em Dezembro ou inícios de 1874, imprime e distribui a sátira "Ele / Ao Diário Ilustrado", jornal que diz um "vómito real". Entretanto, já no "DN", ou no portuense "Diário da Tarde" (menos em "A Tribuna" e "A Harpa"), 1874 será bem mais produtivo: referem-se, pelo menos, 17 produções com esta data, e venho acrescentar um capricho estival. Donde quase metade da cesárica produção é de 1874 – e, com razão, "A República" ,de 27 de Dezembro anunciava livro...
Entre títulos maioritariamente no plural e um efeito-surpresa característico, acresce o facto de as nossas quatro quintilhas em alexandrinos e quebra hexassilábica comparecerem no "Almanach XPTO para 1875" (Lisboa, 1874, pág. 30-31). Lançado como "Almanach X. P. T. O. / Popular, Joco Serio, Commercial, Artístico, Critico e Litterario / para 1870", são 32 páginas a duas colunas saídas da Tipografia Universal de Tomás Quintino Antunes, Rua dos Calafates, 110, ou seja, das máquinas do "DN", que hoje dá nome àquela rua. Apesar do tom, nomes do matutino colaboram em projecto editado até 1878 (para 1879), datas do número único do "Almanach Escandalo!!!", em que reencontramos Eduardo Coelho e assinatura de um XPTO ainda enigmático, que os dicionários de pseudónimos não contemplam, e pode ser José Inácio de Araújo (1827-1907), um ourives lisboeta que tanto distribuía versos como bom humor. O exclusivo deste J.I. d'Araujo, como assinava, está no segundo ano da publicação, em 1871 (para 1872); regressa em 1873 (para 1874) como "Almanach XPTO I Comico, Burlesco e Satyrico", contando, entre outros, até ao final com nomes como os de Brito Aranha, Gomes Leal, Júlio César Machado, Bulhão Pato, João de Deus, Costa Goodolphim e Guerra Junqueiro.

CESÁRIO VERDE escreveu as quatro quintilhas de 'Escândalos' em 1874

O poema

Com capa de Columbano Bordalo Pinheiro, o quarto número do "Almanach XPTO" encaixa o texto de Cesário como terceiro num lote de sete poemas, sendo parceiro mais conhecido Santos Valente. Aqui se transcreve, ípsís verbís (apesar de arrepios ortográficos, sobretudo no derradeiro e cínico verso, em resposta à mulher de fogo):

ESCANDALOS
Fallava-Ihe ella assim: – "Não sei
[porque me odeia.
"Não sei porque despreza a luz dos
[meus olhares.
"Se o adoro com fervor, se não me
[julgo feia.
"E o meu olhar eguala as chammas
[singulares
"Do incendio de Pompeia!

"Instiga-me o aguilhão do vicio
[fatigante.
"E crava-me o capricho os vigorosos
[dentes;
"Não quero o doce amor platonico do
[Dante
"E sinto vir a febre e as pulsações
[frequentes
"Ao vel-o, ó meu amante!

"As ancias, as paixões, os fogos, os
[ardores.
"Allucinada e louca, eu vejo que
[abomina.
"E ignoro com que fim, em tempos
[anteriores,
"Enchia me de gosto a bôca
[purpurina.
"E o seio de calores!"

E elle ao vel-a excitante, hysterica.
[exaltada.
Volveu lhe glacial, britannico,
[insolente:
– "A tua exaltação decerto não me
[agrada.
"E, ó minha libertina! eu quero-te
[somente
"Para mecher salada!"

Lisboa, Agosto, 1874
CESARIO VERDE

Soltas 1

Quando um «Nobel» é acusado de plágio

«Camilo José Cela
A memória e a obra do Nobel da Literatura galego ficarão manchadas pela sentença de uma juíza de um tribunal de Barcelona que considerou que no seu romance “A Cruz de Santo André” plagiou “Carmen, Carmela, Carmina”, de Maria del Cármen Formoso.»
(Alexandre Costa in Expresso-Actual de 2009.Abril.25)