quarta-feira, 13 de agosto de 2008

João Ubaldo Ribeiro



Nunca li qualquer obra do prémio Camões 2008, mas o seu nome não me era desconhecido. E quando li o pequeno texto da coluna de Henrique Raposo (Expresso de 02 Agosto 2008) não percebi aquele «monólogo de uma libertina» e «No Ocidente, também há homens que não se importariam de enfiar burkas em todas as mulheres ‘gostosíssimas’». Curiosamente, na mesma edição do Expresso, no caderno Actual, lá aparecia a explicação: Ubaldo “se tornou notícia em Portugal por duas cadeias de supermercados terem proibido a venda do romance «A Casa dos Budas Ditosos» devido às suas obscenidades”.
Afinal, os ditos cujos “palavrões” não são apenas literatura; dão também muito dinheiro. Daí aquela liberdade de criança: dizer palavrões era ser grande, era deixar de ser pequenino. E o dinheiro sempre dá liberdade e grandeza. E como é que se consegue dizer o contrário aos alunos, sobretudo em momentos de rebeldia ou de grandeza? São mal-educados... Arte e liberdade em confronto…

domingo, 10 de agosto de 2008

Ferreira de Castro e “O Instinto Supremo”

Parece que também há modas com os autores; ou se não são modas, são qualquer coisa que atira alguns para o esquecimento (?). Como estudante, ainda naquele 5.º ano “dividido” em secção de letras e de ciências, havia um autor português, cujas obras principais eram assim memorizadas: os Emigrantes d’A Selva dão A Volta ao Mundo. E acrescentava-se outro título porque havia textos na própria Selecta de Português: A Lã e A Neve. Claro, refiro-me a Ferreira de Castro, um autor que parece arredado e esquecido, apesar de sua vasta produção literária. Recentemente terminei a leitura daquela que vi referenciada como a sua última obra: O Instinto Supremo. E ao lê-la revi e tentei estabelecer o paralelismo possível com um dos filmes que, por dever profissional, mais tenho visto: A Missão de Roland Joffé. Épocas diferentes, homens já sul-americanos, apenas a «expansão da civilização» explicitada na frase: “Morrer se necessário for; matar, nunca!” na política de Cândido Rondon. É o esforço de aproximação – o título de Ferreira de Castro não é História, antes um romance – que contrasta com a mortandade com que termina o filme em nome da cobiça dos homens.

Soljenitsin



Um apontamento, apenas, para recordar Soljenitsin, agora que se anunciou a sua morte (3 Agosto de 2008). Terminei de ler o seu livro «Um Dia na Vida de Ivan Denisovich» em 18 de Outubro de 1972. Marcou-me “o seu relato e testemunho”. Razões políticas, claro. Ouvira falar dele pela primeira vez, ou vira o seu nome escrito, algures, quando é laureado com o Nobel, mas não liguei. Curiosamente, é nas nossas «conversas políticas» de juventude que o seu nome é referido como denunciador de algo que não era tão salutar do «outro lado». E como surgiram naqueles anos (1969? 1970?) várias edições de livros de bolso com publicação semanal – a RTP foi a primeira (?) –, quando as Publicações Europa-América se lançaram também na sua publicação, lá me esforçava por adquirir cada número. Custava, cada volume, 15$00 que me esforçava por juntar, abdicando de gastar um tostão noutra coisa qualquer. Vício dos livros… e da leitura. Tal como hoje!